por Sylvio Micelli
Pois bem. De escândalos em escândalos tentamos sobreviver.
Diz o competente jornalista Milton Neves que o futebol é "a coisa mais importante, dentre as menos importantes". Pode ser. Mas se o país for o Brasil, maior potência na história do esporte, as coisas - para o bem ou para o mal - tomam proporções incomensuráveis.
Fomos chacoalhados, nessa semana que se encerra, por mais um escândalo na pátria varonil. As arbitragens de Edilson Pereira de Carvalho e outros árbitros ainda sob investigação, os resultados arranjados, as equipes aqui ou ali vilipendiadas e o torcedor desrespeitado.
A mídia fez seu papel de holofote, como sói acontecer nestes casos que rendem manchetes dia após dia. Jogos devem ser cancelados. Até o meu amado e idolatrado Corinthians pode ser beneficiado diretamente. Eu sou totalmente contra o cancelamento dos jogos. Um terceiro interferiu no resultado da partida e, factualmente, nunca saberemos se a ação com dolo foi para beneficiar este ou aquele clube.
No frigir dos ovos acredito que, pelo bem do esporte, ninguém deva ser rebaixado e teremos, ano que vem, um campeonato com mais equipes que deveria. Esta questão futebolística deverá ser potencializada com a eleição de Aldo Rebelo para a presidência da nossa esgarçada Câmara dos Deputados. Para quem não se lembra, o deputado foi um dos baluartes da CPI da Nike na gestão passada e ele deve seguir esta trilha de sucesso que rende polpudas aparições na mídia, a um ano das eleições.
Rebelo, por sinal, foi o nome da semana. Particularmente, não gosto dele. Seu comunismo não é tão idealista quanto deveria ser. Nada fez de positivo para a classe jornalística da qual se diz pertencer. Fez um projeto ufanista da língua portuguesa que beira a xenofobia, mas não resolve o problema da educação escolar no Brasil.
Mas... Quiseram os capetas (não acredito que os deuses se envolvam em política) que se fizesse justiça a Aldo Rebelo. Ex-ministro, foi frito em óleo frio por Zé Dirrrrrrrrrrrrrceu e sua gangue. Comeu o pão que o diabo amassou lá no Alvorada e, por ironia do destino, caberá a Aldo conduzir o processo de cassação de parlamentares, incluso Dirceu. Não entro no mérito aqui, se houve um rolo compressor para a eleição de Aldo. Este modus operandi é tão comum, independente da agremiação partidária, que não vale a pena o comentário.
Quero saber, e isso realmente interessa, como Rebelo conduzirá o processo. E já deixo minha opinião. Se ele alisar a questão dos parlamentares à beira da cassação, será um deles. Terá merecido a fritura em óleo frio e não terá a honra de ostentar o título de comunista. Deverá, pois, agir como um magistrado. A letra da lei é sempre fria, gélida. E que esta seja cumprida. Sem vinganças, mas que a lei e a punição prevaleçam a quem merecer.
O Brasil fica mais triste. Golias foi habitar seu merecido espaço no céu ao lado de Manoel da Nóbrega, Costinha e tantos outros que fizeram com que os brasileiros esquecêssemos de nossas mazélas ao rirmos delas. Não sei se existe hora certa de partida. Mas Golias foi na hora certa. Afinal o palhaço é aquele que tem de fazer os outros sorrirem, mesmo se estiver chorando. E o Brasil não nos dá motivos de alegria.
Ficaremos sem o Bronco. A "praça" estará menos verde. E nós estaremos mais pobres. Mas repito: de escândalos em escândalos tentamos sobreviver. Eis a nossa imorredoura missão. E pasmem: Maluf continua preso.
Texto originalmente escrito em 01/10/2005
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