domingo, dezembro 21, 2008

Depois do não

por Sylvio Micelli

Votei não no referendo e todos sabem disso. Dizem os analistas que os resultados falam por eles mesmos. Alguns mais cáusticos com o atual governo vêem uma mensagem subliminar, ou nem tanto, ao governo Lula e companhia.

Bobagem. Há algumas grandes mensagens na questão do referendo. Nem tanto pelo resultado, mas pela diferença gritante que aconteceu numa eleição maniqueísta que imaginávamos uma disputa voto a voto. Há também mensagens importantes ao poder público, especialmente aonde o SIM ganhou.

1. O povo ainda não sabe votar, como disse Pelé no século passado. Mas vem aprendendo. Não vota mais em artistas de televisão e campanhas passionais. Tomara que caia a ficha para a próxima eleição e que fiquemos longe da publicidade novelesca.

2. As Organizações Globo perdem um pouco mais do seu reinado. Claro que seu império continua e os próximos candidatos à presidência deverão procurar os Marinho para alavancar a campanha. Mas a empresa carioca assumiu a proibição da venda de armas, via TV, jornal, Internet, e se deu mal.

3. Perde o poder público. E perderia com qualquer resultado. Como diz o meu grande amigo advogado e irmão João Portos, se o SIM vencesse, o recado da população seria "olha, não queremos mais a venda de armas e vocês se virem para melhorar a política de segurança". Com a vitória do NÃO, o recado é mais ou menos assim "não confio em vocês e não vou abrir mão de fazer justiça com as próprias mãos". De um jeito ou de outro, o poder público precisa rever a questão da segurança. Talvez seja este o único valor do referendo, ou seja, pautar a questão da segurança pública em nível nacional.

4. Perde a Imprensa. Quanta bobagem lí e ouvi. E eu mesmo devo ter escrito muita bobagem sobre o assunto. Mas a mídia, no geral, tomou partido como no caso já citado da Globo, além da Veja e ambas perdem, se ainda gozavam, de credibilidade.

5. O Rio Grande do Sul não abre mão de sua liberdade e independência escancaradas. O resultado pró-NÃO foi absurdo.

6. No Nordeste, o SIM chegou mais próximo da metade da população. Região carente que quer se libertar dos poderosos do cabresto?

7. Diadema é uma cidade Corinthians X Palmeiras, Fla X Flu (dos tempos áureos) ou Galo X Cruzeiro. Cidade dividida mais uma vez, como na eleição para prefeito. Voto a voto, pau a pau. O SIM ganhou e a justificativa está clara. Há décadas era um dos municípios mais violentos da grande São Paulo. Há anos implantou uma série de medidas eficazes, não apenas na questão da segurança como trabalhos sociais diversos. Lá, hoje, ter uma arma não é fundamental.

Diadema serve de exemplo a ser aplicado em todo o Brasil. Mas sem medidas de educação e saúde, além da segurança continuaremos a fazer novos referendos.

À omissão do Poder Público, o povo falou "a paciência se esgotou".

Texto originalmente escrito em 25/10/2005

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que quem perde com a vitória do NÃO somos nós, a população.

Parabenizo Grajaú, Parelheiros e Piraporinha, os três bairros onde o SIM venceu.

São regiões carentes e das mais violentas de São Paulo. A própria cidade de Diadema, que sempre figurou na imprensa com terra sem lei, optou pelo SIM. Estranho, não? Antagonicamente, quanto mais nobre o bairro, maior a votação em prol do NÃO. Fica a lição, fica a análise. Respeito o resultado, mas não entendo como tantos optaram por MAIS DO MESMO, PELO DEIXA COMO ESTÁ. A maioria desses que não abriram mão de um direito não tem condições de comprar uma arma legalmente.

Se nós, a população, perdemos alguém ganhou. Os fabricantes de armas e aqueles que as comercializam. O resto é sofisma.

Oldair