quinta-feira, novembro 13, 2008

O cerco que se fecha

por Sylvio Micelli

Quando começou toda essa confusão com os escândalos de corrupção no governo federal, meu medo era a economia. Com as bombas sobre a cabeça de "Paloff", o cerco se fecha. E, definitivamente, tudo pode acontecer.

Não tenho aquele medo estriônico dos que dominam o "economês". Afinal não sei muito bem para quê servem as taxas de juros. Também pouco compreendo as variações do dólar. E mercado flutuante para mim não significa nada, além de, num devaneio, imaginar o Mercadão Municipal boiando no Rio Tietê, enquanto devoro um sanduíche de mortadela.

Gostaria, sinceramente, de que nada disso ocorresse. Tento imaginar a burguesia composta por seus "pequeno-burgueses" tentando desestabilizar Lula e sua trupe. Mas os escândalos são tantos e as evidências tão evidentes, com perdão da redundância, que temo pelo pior.

Não! O pior não é haver o "impeachment" de Lula e Zé Alencar. Nem ter a volta dos cara-pintadas que só acordam quando a uva vira vinagre. A história recente de nossa democracia imberbe provou que tirar um presidente foi um avanço dentro do ponto de vista de cidadania. Políticamente, o significado é diferente.

Collor saiu. PC Farias foi assassinado. Havia motorista, cunhada, irmão traído e um Congresso Nacional ávido por sangue.

Hoje, as mesmas figuras emblemáticas de ontem ressucitaram. Lula, ainda não saiu. E nem acredito que venha a sair. Marcos Valério, ainda não foi assassinado. Nesse caso, não posso garantir se ele não entrará no rol dos "arquivos queimados". Há ex-mulher, tesoureiro oficial e alternativo, malas, cuecas e um Congresso Nacional ávido por sangue.

Aliás, figuras carimbadas de nossa vida pública lá estavam em 1992. Cá estão 13 anos mais tarde. Roberto Jefferson, ardoroso defensor de Collor, hoje goza de prestígio maquineísta. Capaz de entorpecer qualquer pensador bilhões de vezes mais inteligente que eu. Ao mesmo tempo ele é o algoz e o redentor, numa situação "sui generis" que só o Brasil varonil poderia trazer.

Mas vamos aos dados concretos. O grande problema da nação chama-se Congresso Nacional e o povo temos grande e incomensurável parcela de culpa. Lula poderá sair. E o Brasil ser presidido por Severino, ou Renan, ou Jobim, membros de uma direita reacionária que pensávamos sepulta. Isso, tirar mais um, em nada resolverá o problema.

O que precisa ser feito é uma renovação no Legislativo. Veja bem. Temos 513 deputados e 81 senadores. São quase seiscentas pessoas, de cujo bom senso, nem deveríamos duvidar. Mas não é por aí que a banda toca. E quem conhece Brasília sabe disso.

O projeto de poder que está no Palácio do Planalto com Lula também esteve com FHC, Itamar, Collor, Sarney, militares, Jango etc etc até Deodoro. Isso apenas para pensar em República. O poder é algo que vicia o ser. Quase orgânico. Todos os presidentes sabem que para governar, ou seja, para executar o projeto de poder, que o finado Ministro Sérgio Motta avaliava em 20 anos, precisa do apoio dos deputados e senadores.

Agradar tanta gente não deve ser fácil. Lá no clima seco de Brasília, as coisas fervem no Congresso. A maioria dos parlamentares, com raríssimas e honrosas exceções, querem também dar andamento aos seus projetos que versam, normalmente, sobre "rebanhos eleitorais". Poucos dentre os 594 se destacam. Atuações positivas nos estados de origem não significa sucesso na Capital. Evitarei nomes. Mas já vi muito deputado estadual de bom
trabalho, simplesmente, sumir no Planalto Central. Lá em Brasília é poder ou poder. Ter boas votações também não significa sucesso nos salões verde ou azul. Isso tudo porque o Congresso hoje é um grande balcão de negócios. Lá há bancadas que defendem interesses corporativos em detrimento do interesse público, essa coisa subjetiva e amorfa, quase impossível de definir. Além de cada parlamentar defender o seu "quinhão", seu nicho eleitoral.

Isso tudo e termino por aqui apenas para dizer... ops, escrever. Se não escolhermos o deputado direito vamos tirar trocentos presidentes picaretas. Mas manteremos os outros tantos lá, nesse grande truque de mal gosto que fizeram com o Brasil.

Texto originalmente escrito em 20/08/2005

Um comentário:

Anônimo disse...

Micelli,

"Não tenho aquele medo estriônico dos que dominam o "economês". Afinal não sei muito bem para quê servem as taxas de juros. Também pouco compreendo as variações do dólar. E mercado flutuante para mim não significa nada, além de, num devaneio, imaginar o Mercadão Municipal boiando no Rio Tietê"...

Ah, pois devia ter. Essas coisas que pra você não fazem o menor sentido determinam boa parte o quanto o seu salário vai valer no mês seguinte.

Marcelo Tavares