segunda-feira, dezembro 22, 2008

A consciência de cada um

Sylvio Miceli

Normalmente, as pessoas não dão muito valor àqueles que elas julgam inferiores. Infelizmente, a mentalidade usual respeita o terno e gravata e quem anda com a camisa aberta, não é muito confiável.

A onda de greves em maio, fazendo de São Paulo uma cidade mais caótica que o normal, mostrou-nos a mesma hipocrisia de sempre. A greve que deveria ser bem utilizada só prejudica o cidadão. Os grevistas fazem passeatas, param o trânsito e os arruaceiros depedram o patrimônio público, como foi o caso dos ônibus.

Na véspera da falta de ônibus, um cobrador estava revoltado com a greve em diversos aspectos. Num desabafo, ele conversava em altos brados com todos os passageiros.

Primeiro, afirmou categoricamente, que essa paralisação era do interesse das empresas que desejavam aumentar o preço da passagem, o que foi definido pelos meios de comunicação como “lock-out” (locaute), ou seja, as companhias estavam interessadas em pressionar o senhor prefeito, Paulo Maluf.

Logo depois, ele relatava que haviam pessoas infiltradas nas passeatas destruindo os coletivos, o que denigre a imagem da classe, já não muito bem vista pela população.

Por fim, ele alertava para a quantidade de desempregados que irá aumentar com a implantação das catracas eletrônicas, reclamando que as empresas só consideram os motoristas, afinal são eles os condutores dos veículos.

Desci do ônibus com a sensação de que nem tudo está perdido, afinal existem pessoas cônscias de suas responsabilidades. A verdade é que a população, que já é vilipendiada de diversas formas, seja ainda mais prejudicada, por uma greve tendenciosamente política.

Texto originalmente escrito em maio/1996

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