Sylvio Miceli
O rock-pop-descompromissado do Men at Work (“Homens trabalhando”, em inglês) aportou numa super turnê de 19 shows pelo Brasil e Peru, em setembro passado. Da formação original da banda em 1979, restam o vocalista / guitarrista Colin Hay e o multi-instrumentista Greg Ham que concederam uma entrevista coletiva no Hotel Eldorado, pouco antes da turnê.
Para quem nunca ouviu falar dos competentes músicos que colocaram a Austrália, definitivamente no cenário do rock-pop mundial, basta dizer que até a metade da década de 80, o Men at Work acumulou vendas em cima de vendas e teve pelo menos uma dúzia de hits espalhados pelo mundo afora. Músicas como “Down Under”, “Dr. Heckyll & Mr. Jive”, “Overkill” e “It’s a Mistake” freqüentaram o Top 10 americano. Após mais de 12 milhões de álbuns vendidos e prêmios Grammy, problemas internos causaram a separação da banda em 1984.
Colin Hay seguiu em carreira solo e conseguiu muito sucesso em 1990 com a música “Into my life” que virou até tema de novela. Com isso, ele foi convidado a participar do Rock in Rio II no ano seguinte.
Após 12 anos longe do público e dos estúdios, Colin e Greg se juntaram e remontaram o Men at Work em 1996, contando ainda com Simon Hosford (guitarra / backing vocals), Stephen Hadley (baixo / backing vocals) e John Watson (bateria) e fizeram shows no Brasil.
Com o enorme sucesso, o grupo resolveu gravar seu primeiro disco ao vivo nos homenageando com o álbum entitulado “Brazil’96”. O CD com 15 músicas e mais de uma hora de duração não deixa escapar nenhum sucesso dos três discos da banda (“Business as Usual”-1982 / “Cargo”-1983 / “Two Hearts”-1984). Estouros mundiais como “Overkill”, “Down Under”, “It’s a Mistake” e “Be Good Johnny” têm presença garantida no disquinho.
Na entrevista, tanto Colin como Greg estavam satisfeitos com a repercussão do retorno do grupo e decidiram homenagear o Brasil, pois eles não imaginavam a quantidade de fãs aqui, que lotaram todas as apresentações em 96.
Colin perguntou qual a banda de maior sucesso do Brasil no momento e ficou alegre ao saber que o Skank era o dono da festa. Ele chegou a comentar que conversou com o vocalista Samuel Rosa recentemente. Greg afirmou que conhecia Sepultura e Olodum e que a receita do sucesso do Men at Work no Brasil é a espontaneidade do trabalho do grupo que se assemelha à “ginga brasileira”.
Assuntos polêmicos também não ficaram de fora da coletiva, como a afirmação de que o rock/pop está morto ou pelo fato de eles serem considerados como uma banda apenas para surfistas. Colin foi direto afirmando que o rock nunca vai morrer e que não sabe o que é surf music. “Desde sempre ouvi dizer que o rock ia morrer. Ele apenas muda um pouco. Aquilo que se fazia há 20 anos é diferente de hoje. E daqui a 20 anos haverão outras vertentes de rock/pop. É uma inverdade falar que está morto ou acabado”, conclui.
Greg informou não suportar pessoas que ficam rotulando as coisas e disse que a única banda de postura surf music que conheceu foram os Beach Boys. “Alguns costumam colocar etiquetas para diferenciar isso ou aquilo. A proximidade da Austrália com os surfistas é muito grande, afinal nosso país é completamente litorâneo. Mas nem pelo lado musical podemos dizer que é tudo igual. Há variações entre a nossa música e o Hoodoo Gurus, Ganggajang, Midnight Oil, INXS etc. E nascemos praticamente juntos fazendo o mesmo tipo de coisa”, comenta.
Em busca de mais sucessos, Colin e Greg se despediram informando que já possuem material para um novo disco de estúdio que deverá ser lançado em 98.
Texto originalmente escrito em outubro de 1997
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