domingo, outubro 19, 2008

O fumo e o preço da liberdade

por Sylvio Micelli

Soa óbvio, até lugar comum, dizer que para tudo há um preço. Com o cigarro não é diferente.

Os fumantes, em geral, sabem dos malefícios provocados pelo tabaco e suas milhares de substâncias entorpecentes e nocivas. Por que, então, assinar um atestado de ignorância?


O contato com o fumo ocorre, normalmente, na adolescência e consequente inexperiência. O efeito psicológico do cigarro é muito mais forte que as patologias por ele causadas. Para os rapazes significa poder. Para as moças, amadurecimento.
Fumar, em nossa tenra idade, é antecipar a maioridade. É ser aceito pelo grupo a que pertencemos é, enfim, ser uma personagem da contacultura a renegar o políticamente correto. É mais! Um grito de liberdade, uma troca de pele, pois não somos (ao menos imaginamos isso) a criança protegida pelos pais. Queremos, também, reformar o mundo. E do nosso jeito.

Ao longo dos anos vamos perceber o engôdo. Pode ser tarde, podemos até recuperar a saúde que os anos de nicotina nos furtaram e com o nosso conscentimento. Claro que haverá conseqüências e os governos tentam medidas de saúde pública contra o fumo. Mas estejam certo que a fumaça do cigarro que inebria é o ritual de passagem no peito adolescente a explodir.


E enquanto existirem jovens idealistas, mesmo que de forma imatura e equivocada, a fumaça continuará a preencher as mentes do futuro da sociedade. Afinal, "é uma brasa, mora?"


Escrito originalmente em 22/09/2007

Um comentário:

Tânia Meneghelli disse...

Sylvio, achei seu texto perfeito, só fiquei um tantinho ofendida com o "atestado de ignorância". Pega mais leve com a gente, filho! kkkkkkk!!!!

Infelizmente sou fumante já há muito tempo. Não acho isso bonito, nem glamuroso, nem nada. É uma dependência que a gente adquire por todas as razões que você, tão apropriadamente, coloca no seu texto. É um vício triste, difícil de se livrar, que nós, fumantes, reconhecemos como um "prazer". Um prazer que prejudica seriamente outros pequenos prazeres da vida, como sentir o gosto e cheiro certo das coisas ou simplesmente respirar direito, sem contar com os grandes malefícios que todos conhecem.

Tenho plena consciência disso tudo e não vou defender o tabagismo. Ao contrário, não perco uma única chance de recomendar que quem nunca provou, jamais ouse experimentar essa droga. Mas vou aproveitar a oportunidade pra também fazer algumas colocações.

Os não-fumantes se transformaram em verdadeiros inquisidores na luta ferrenha de acabar de vez com o cigarro e garantir seu direito (justo) de não fumar passivamente. Mas muitos deles (senão todos) não abrem mão de usar seus automóveis e liberar substâncias tão ou mais nocivas que o cigarro no meio ambiente. Ninguém ataca com tanta veemência o álcool e, pelo contrário, muitos ainda reclamam furiosamente da tal lei seca. E quem bebe só prejudica a si mesmo, por acaso? Nem é preciso dizer que não.

Volto a deixar claro que não sou defensora desse vício e tenho convicção de que ainda vou me livrar dele. Mas quando acendo meu cigarrinho longe dos outros, quando respeito a vontade e espaço alheios, fumando apenas onde é permitido e ao ar-livre (jogando a bituca no lixo, inclusive), estou simplesmente exercendo o direito que também tenho de fazer minhas próprias escolhas, ainda que sejam consideradas burras, politicamente incorretas e com um preço alto a ser pago no final.

Beijão, belo!