
Proponho-me, aqui, a passar bem longe das questões políticas partidárias, comparação de governos enfim, da política como um todo. Pretendo fazer uma reflexão sobre quão pobre e podre tem sido as campanhas eleitorais e o vale-tudo político, até porque, salvo raríssimas e honrosas exceções, os políticos têm projetos de poder e não planos de governo. O capítulo mais sujo aparece agora com o início do 2º turno para a eleição de São Paulo, onde Marta Suplicy e Gilberto Kassab são oponentes.
Quero deixar claro que aqui não trago nenhum juizo de valor sobre os candidatos. Não gosto de ambos, não votei em nenhum dos dois no 1º turno e, possivelmente, nenhum deles merecerá meu humilde voto no próximo dia 26. Para os que acham que o voto nulo é ficar em cima do muro afirmo que, em se tratando de pleito final, anular o voto é não concordar com nada disso que está aí.
Marta Teresa Smith de Vasconcellos Suplicy é uma bem nascida filha de industriário e teve inegável importância, durante o ocaso da ditudura que dominou o país por mais de duas décadas. Falou sobre sexologia na TV numa época em que o assunto era tabu. Lutou contra o preconceito ético, sexual e todas as pequenezas humanas que rotulam pessoas. Ao menos era o que parecia.
Levada pelo então marido, o senador Eduardo Suplicy, outro paulistano de boa família, Marta ingressou no início do Partido dos Trabalhadores. Eles eram o casal perfeito e davam uma certa nobreza àquele PT do nascedouro. Ambos fizeram carreiras políticas de sucesso e se divorciaram, há pouco mais de quatro anos. Até aí, tudo normal.
Marta, entretanto, sempre teve falas e atitudes controversas. Há muitas pessoas que idolatram o PT e o presidente Lula, mas que não topam o jeito arrogante da candidata. Tem pouca relevância o episódio "Relaxa e Goza", que já faz parte do folclore político que tem em seu "cadastro" gafes das mais variadas e para todos os gostos. Entendo que a frase foi dita num momento de pressão e que foi explorada em demasia como aliás, todos fariam. Se um tucano de alta plumagem tivesse dito tal bobagem, também seria execrado.
A questão agora é outra. Envolver o particular naquilo que é público. Confesso que tomei um susto quando vi a propaganda de início do 2º turno, quando veio questionamento sobre a vida íntima de Gilberto Kassab. Apesar de estar acostumado com tantas e tantas coisas, ainda surpreendo-me com a capacidade laborativa de destruir o que quer que seja, apenas pelo poder.
Você poderá questionar: 'mas um político deve ter uma vida ilibada e realmente as pessoas devem saber quem o cara é'. Concordo, em parte. Esperar de um ser humano uma vida ilibada é ser, no mínimo, inocente. Todos temos defeitos e erros e, sorte nossa, se as pessoas de nosso convívio nos concederem a dádiva do perdão.
Na política temos uma infinidade de casos em que a vida particular preponderou sobre a pública. John Kennedy, Príncipe Charles, Princesa Diana e Bill Clinton seriam os exemplos mais clássicos disso. O que devemos esperar de um político é que ele seja bom administrador. Seus gostos, quaisquer que sejam, não nos interessa.
Além disso, Marta Suplicy deveria ser a última a evocar a vida privada de quem quer que seja. Primeiro, pela seu histórico na defesa das minorias contra todos os preconceitos. Será que ela enganou tanta gente durante todo esse tempo? Segundo, porque ela já mantinha um relacionamento com seu atual marido, Luis Favre, quando ainda estava casada com Suplicy. Aliás, isso foi explorado à exaustão na campanha de quatro anos atrás e muitos creditam ao fato, a não reeleição da candidata em 2004.
Depois de ver a propaganda e o debate de domingo já imaginava o que iria acontecer. Marta seria acusada de fazer uma propaganda de cunho homofóbico, questionando a sexualidade de Gilberto Kassab. Na segunda, durante uma reunião que participei até com simpatizantes da candidata, todos reconheciam o tiro no pé que foi. Claro, que do ponto de vista do marketing eleitoral, a responsabilidade recai sobre o publicitário João Santana. Mas é um tiro fatal numa candidatura que já dava sinais de desgaste ao ter sido derrotada no 1º turno, coisa que ninguém, nem os institutos de pesquisa contava. Pode ter sido desespero, mas foi uma atitude de extremo mau gosto.
Não é possível afirmar, enfim, se Marta Suplicy será ou não eleita daqui a dez dias. Isso só as urnas dirão. Mas uma coisa é certa: o exemplo de Lurian, a filha extraconjugal de Lula e que foi utilizada por Fernando Collor na campanha de 1989 fez com que a candidatura do petista desabasse. Pena descobrir, que 20 anos depois, o PT usou do mesmo recurso. Mau caráter, vil, patético e triste.
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